"Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever eu me morreria simbolicamente todos os dias" (Clarisse Lispector - A Hora da Estrela)

domingo, 8 de janeiro de 2012

Felicidade cega


Eu estava lá, parava, quieta, calma e sóbria, de repente o vento soprou e fez a porta de vidro cambalear, eu não entendi o porquê, mas do bater da porta ao novo silêncio que se instalou eu senti que a vida era boa. Talvez ainda seja boa.
No ziguezaguear dos caminhos nos quais a gente tropeça, sai do tom, avacalha de vez com o ritmo da canção, descompassa o trajeto, desafina, chora, rasga as partituras. Acontece de novo, tudo de novo.
De volta a fase inical dessa estrada, de volta ao planejar da viagem, a escolha do tema desse musical.
E a gente dá voltas e voltas e se revolta por tanto errar.
A gente insiste, persiste, desiste de tentar.
A vida muda, o ano vira, as promessas nunca duram.
De novo o pesar de tudo que é comum e desnecessário.
A gente sabe. A gente quer. Mas não faz.
De novo o passo lento e cansado de quem já recomeçou demais.
A gente quer mudança, vitória, troféus e glória...
A gente finge que se esforça.
A gente espera que a mentira se torne verdade.
Então novamente a gente se decepciona, olha pra trás, nada mudou, a esperança minguou.
Ninguém venceu a dor e ninguém precisou se impor.
De volta ao planejar da viagem, ao esperar e esperar.
E nessas horas de pensamento e pesar, do balançar da porta, do sonhar, que eu percebo que a vida é boa. É boa sim, quando estou no silêncio.
E de olhos fechados.

Um comentário:

  1. Engraçado, mas essas palavras fizeram com que algumas lágrimas teimosas embaçassem minha vista da baia do escritório, onde enterro meus dias e morro lentamente...talvez precise ficar em silêncio de olhos fechados para sentir que 'sim'... a vida é boa!

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