"Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever eu me morreria simbolicamente todos os dias" (Clarisse Lispector - A Hora da Estrela)

domingo, 17 de abril de 2011

Inversos

Com o fim do horário de verão, agora eu tenho um dia a mais de terror no trabalho. Sábado. Sexta e sábado agora, logo os dois melhores dias da semana. Estou sendo o oposto de todos que conheço. (Não muito diferente do que sempre foi).
O fato é que agora no meu mausoléu gelado e sombrio e solitário em que passo a maior parte dos meus dias já é noite ás 18h e eu levo um susto tremendo quando alguém passa pela porta de vidro sem fazer barulho e eu só percebo quando já está perto demais pra eu sair correndo. (Caso fosse um bandido, o que ainda não aconteceu, mas a gente tem que esta preparado pro pior não é o que dizem?).
Então, voltando, sexta e sábado, os dias em que eu trabalho até depois do escurecer.
Ontem, sábado, tava distraída com o trabalho que não podia ser mais chato e hipnotizante, estava carimabando arquivos, quando me dei conta que já estava escuro pra dedéu e bateu aquela deprezinha. Poxa vida, sábado minha gente! Eu sozinha no escuro, no meio do nada, carimbando arquivos. Aí olhei pra fora e levei outro susto tremendo, a porta de vidro dá pro leste, e a lua cheia tinha nascido gigantesca e alva como nunca e eu tinha perdido esse espetáculo. Tudo bem, agora ela tava no céu eu podia admirar, e mesmo que ela tentasse se esconder atrás das araucárias continuava linda, e eu olhando, esse mausoléu pelo menos me garante uma vista privilegiada. Aí vem os opostos que sempre me causam aquela vontade de sair correndo e me internar de vez num hospício. Eu comecei a rir sozinha e a chorar desesperadamente. Eu ria e chorava que nem uma criança, não conseguia pensar, somente sabia que sentia uma serenidade e alegria que não cabiam em mim, e ao mesmo tempo inversamente uma angústia dilascerante. Impossível de entender, mas foi assim que foi. Eu queria voltar no tempo, reviver meus melhores dias, trazer não só as lembranças à tona mas também o momento, as pessoas, os cenários, minhas lembraças secretas, meus segredos mais felizes, e isso me fez entender a tristeza em um novo formato, e eu queria poder entender a alma humana, descobrir a verdade sobre as pessoas. Porque elas vão embora, porque elas negam amor, porque elas mentem e traem quem geralmente só quer o bem. Entendi que minhas lembranças felizes agora me fazem sofrer por não serem mais somente lembranças e sim indagações que eu não consigo responder. Tudo se transformou em problemas sem soluções, e nada é tão simples como deitar na grama pra olhar a lua. Porque também me lembro que um dia ele me disse nesse momento extremamente feliz que estaria ao meu lado pra sempre. E não está, ele conseguiu transformar uma das minhas lembranças mais felizes em dor e descrença.

2 comentários:

  1. Porque elas vão embora, porque elas negam amor, porque elas mentem e traem quem geralmente só quer o bem. (SEM MAIS...)

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  2. rs... pois é, resumindo o inexplicável...

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