"Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever eu me morreria simbolicamente todos os dias" (Clarisse Lispector - A Hora da Estrela)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Carta a uma amiga

Prezada M.

Sinto dizer que também estou me sentindo assim ultimemente viu, vontade de falar foda-se pra tudo e desaparecer, esquecer da vida, deixar a barba crescer, nunca mais escovar os dentes, nem abrir as janelas, me alimentar só do que tiver no armário, enquanto tiver algo no armário, sabe, pó de gelatina, catchup, chantilly, miojo cru.
Esquecer o sol, suar debaixo das cobertas, deixar as contas vencerem e dane-se, que cortem a luz, também não preciso mais dela. Mandar o chefe pro diabo, andar de meia e pijama pela casa todos os dias. Dormir no chão quando enjoar da cama, queimar todas as roupas, jogar os comprimidos na privada, doar os sapatos aos pobres, fechar os olhos pra sempre.
Mas ai vem a sensação do estúpido, a imbecilidade humana do conformismo robótico. Tenho que levantar, tenho que vestir uma roupa limpa e continuar seguindo ordens.
E a liberdade pela qual eu tanto sonho, de espírito, de expressão, de sentimento, evapora no ar e continua sendo só sonho.
Mas um dia vai mudar... porque a fé, essa eu não perco jamais.

4 comentários:

  1. "viver é fácil com os olhos fechados" - seria suficientemente bom, mas precisamos estar atentas de vez em quando, a gente aprende a sobreviver, mas nada impede de que possamos viver... ouviu bem? nada impede, a não ser nós mesmas e as limitações que criamos para nossa vida.

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  2. Às vezes basta um sim pra vida, uma disposição a mais pra aceitar, um passo pra frente e essas barreiras ou limitações se tornam pequenas e deixam de fazer tanta importancia...

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  3. Fazia um tempinho que eu não passava por aqui!
    E me encaixei nessa amiga! :)
    E realmente, a fé, essa eu não perco jamais!
    Beijos Querida*

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