Alma envelhecida

Sabe o que é sentir a alma envelhecida, os ombros cansados, um vazio cada vez maior?
O espelho não mostra mais o retrato que eu observava há alguns meses. As rugas são aparentes, as olheiras maiores, os sorrisos amarelos, eu diminui. Não, eu não sou velha, sou jovem, muito jovem. O viver em um momento tão doloroso e cruel é que me deixou assim. O tempo parece que leva tudo, minha mocidade, minha espontaneidade, minhas vontades, só não faz passar essa tortura.
Quanto tempo faz mesmo que as coisas estão assim? Que nada se resolve, nada se descomplica? Quanto tempo faz que você me deixou sozinha pra enfrentar tudo isso? Isso que as pessoas insistem em chamar de vida e ultimamente eu gosto de chamar de prisão. Nem sei mais quanto tempo faz, tudo é tão igual e tão sem graça que me fiz o favor de rasgar os calendários e não ter mais hora pra dormir, nem pra acordar.
Mas o desconforto só aumenta, os calos me doem, meu corpo se retrai mesmo sem sentir frio e as feridas não cicatrizam mais. Estão constantemente esperando mais um golpe, mais um ferro em brasa abrindo o machucado, não dá pra curar as dores diárias. Sim, pois diariamente sua ausência me fere e torna essa dor ainda mais prolongada.
Dizem que vai passar, eu não quero saber. Quero me manter fechada, me encolhendo como uma flor que murcha, quero continuar sentindo o peso dos amores fracassados nos meus ombros, quero que o vazio continue aumentando, até ter a certeza de que minha alma envelheceu o bastante, e quem sabe, se tornou invunerável à você.