"Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever eu me morreria simbolicamente todos os dias" (Clarisse Lispector - A Hora da Estrela)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Preguiça Ideológica

Outro dia uma amiga me disse que é afetada por preguiça ideológica, nunca tinha ouvido o termo, mas achei extremamente apropriado  pra descrever a nossa falta de ação: “Preguiça Ideológica”. É isso mesmo que a gente tem em abundância né? Todos nós pensamos mil coisas por segundo, nos revoltamos com o noticiário, temos vontade de chorar quando recebemos o salário e ele parece se evaporar em nossas mãos em segundos, todos nós ficamos indignados com nossos políticos, com a corrupção, com a poluição, com a aposentadoria de nossos avós, com a educação dos nossos filhos, com os buracos da estrada e os altos custos do combustível.
A gente quer viajar e às vezes não dá. A gente quer descansar, mas tem que fazer um bico. A gente quer namorar, mas já não há tempo. A gente sabe reclamar, assistir Big Brother, beber uma gelada pra esquecer os problemas. A gente gosta mesmo é dos bordões, das frases repetidas. Os maridos gostam de chegar em casa e soltar o de sempre: - Como estou cansando, tudo sobra pra mim, e o salário está atrasado, tenho contas pra pagar, o visinho comprou um carro novo. E a esposa por sua vez gosta é dos clássicos: - Eu tenho que cozinhar, lavar, passar, limpar, levar o Joãozinho pra escola, trocar as fraudas da Mariazinha Estou cansada! Preciso cuidar um pouco de mim!
Sempre o mesmo blá, blá, blá, os mesmos problemas, as mesmas aflições, e os dias passam, os anos passam, a vida passa e tudo continua do mesmo jeito. A gente reclama um pouco, enche o saco das outras pessoas com problemas que não conseguimos resolver, mas nada muda. A gente se acostuma, põe a culpa nos políticos, em Deus, no vizinho que tem sempre a grama mais verde, não é?
Preguiça ideológica! A gente não sabe mais se revoltar com alguma coisa e botar a boca no trombone, reclamar pra pessoa certa, tomar alguma atitude. Não estou querendo que ninguém se acorrente em árvores nem viaje pros pólos pra proteger focas. Não é isso. Estou falando das atitudes simples e básicas que todos nós deveríamos estar acostumados a tomar.
É tão fácil a gente reclamar dos políticos. É tão fácil a gente achar que ninguém presta mesmo e então votar em branco, viajar no dia da eleição, apertar qualquer botão e depois confirmar. Cumprir o papel de cidadão patriota que temos e assumir de vez a falta de fé no nosso país. Difícil é pesquisar o passado do seu candidato, optar por novos partidos, novas pessoas, novas idéias, sair da mesmice e tentar colaborar de verdade para uma mudança positiva no sistema. Difícil é dizer não às gorjetas e lutar por uma vida digna. Difícil é expor sua opinião. (É sim. Onde estão os debates? As discussões saudáveis? Aquela conversa boa de bar onde a gente fala sobre tudo e não somente sobre a novela das oito ou o próximo jogo de futebol? Onde está a difusão verdadeira de informações importantes que são obtidas por poucos?)
Difícil, muito difícil. A gente não tem mais tempo de ler textos, de assistir peças teatrais inteligentes e formadoras de opinião, de debater com os amigos e familiares e tomar a iniciativa pra realizar alguma coisa benéfica pra sociedade. A gente tem preguiça também, muita preguiça. Eu sou assim, e como! É muito fácil eu escrever e “meter o pau em todo mundo”, como dizem. Mas eu quero me ver tomando outras atitudes, quero me ver fazendo minha parte, quero ter orgulho de mim como cidadã brasileira. Chega de se acomodar, de aceitar, de reclamar que ninguém faz nada e só. A gente já deu provas que marcaram a história de que o povo, pensando e agindo em conjunto é capaz de tudo. Basta a gente se dar conta que deveríamos ser os chefes nessa bagaça e não os cordeirinhos ingênuos.
A gente ta pobre de idéia, pobre de vontade, pobre de dinheiro, pobre de inteligência. E a gente ta acomodado a ser pobre. Isso é o pior.

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