Só mais uma falta de educação!

E a minha lista de absurdos cresce a cada dia, já não tem mais fim, é tanta coisa, que eu não sei mais o que é certo e o que é errado. De repente todos os meus valores estão batendo de frente com os valores das outras pessoas, e chego a me perguntar se não sou eu a louca e perturbada, querendo achar problemas em tudo. Chego a me perguntar se tudo não estaria normal na verdade, e eu é que exagero. Depois de alguns segundos de desesperada aflição em que quase arranco meus cabelos, eu paro, penso, dou risada de mim mesma e volto à realidade. Não, não está nada normal!

Vou abrir um pouco a minha vida aqui. Eu tenho 21 anos de idade e trabalho no Departamento de Turismo da minha cidade: Gonçalves – MG. Sou funcionária pública embora não exerça minhas funções na prefeitura. Passo os meus dias na Casa da Cultura Áurea Vieira Camargo, vulgo Portal. Um prédio construído em 2004 (novinho, novinho!) pelo então prefeito Sr. José Francisco Neto. O “Portal” é a casa de entrada da minha cidade, a primeira visão que temos de Gonçalves ao chegar ao perímetro urbano. Além disso, está localizado a um ponto onde de um lado se avista toda a cidade (que é minúscula por sinal) e do outro os vales e serras majestosos da minha região, inclusive a Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí. Um local que, diga-se de passagem, venta pra caramba! É onde, além de tudo, recebo os visitantes que procuram informações turísticas.

Não posso ser mentirosa aqui que dizer que adoro essa casa da cultura onde trabalho. Na verdade eu nem curto muito o prédio, acho que existem nele muitos defeitos e imperfeições no acabamento e na estrutura em geral. Erros de arquitetura e engenharia e uso de materias que eu considero inadequados e que fogem das características da região, que é rural e tipicamente caipira. Enfim, quero acima disso deixar claro que sou totalmente leiga nesses assuntos e simplesmente dou minha opinião como uma munícipe qualquer pode dar. Não pretendo ofender ninguém nem causar nenhuma revolta nos meus comentários, só estou escrevendo o que penso. O que, não sei como, ainda é um direito meu, visto que a liberdade de expressão persiste. (Por enquanto).

O fato, e creio que já está na hora de ir ao assunto principal da minha mais recente revolta, é que a cada dia que eu chego pra trabalhar me deparo com mais uma nova depredação na parede deste patrimônio que é meu, seu, de todos nós. Como eu posso ficar feliz em saber que o meu trabalho é recepcionar os visitantes, e que eles, antes de me verem, receberem informações e tudo o mais vêem primeiro essas depredações na parede do portal? Claro que todo mundo conhece aquele ditado que diz que a primeira impressão é a que fica. E é a que fica mesmo! Mas essa falta de respeito e a minha tristeza com isso vai muito além do que o que os turistas pensam sobre isso. Afinal, é a MINHA cidade. É o MEU país. E o seu também. Será que é tão difícil a gente pensar no próximo, no bem comum a todas as pessoas? Isso acima de tudo é na minha opinião a maior demonstração de egoísmo.

Algumas frases que eu faço questão de citar escritas nas paredes, (quem sabe um engraçadinho que escreveu não lê esse texto e pelo menos fica um pouco envergonhado? Assim eu conseguirei uma leve sensação de dever cumprido) como “Alaine é uma biscate” ou “Marcelo eu te amo, ass: Flaviane” ou ainda “Luciano e Amanda” cercado por um coração. Ah! Que lindo não? Que romântico, que declaração! E o animal que faz isso ainda tem a cara de pau de assinar o nome!! Perdeu a vergonha geral né? Que gracinha!

Eu parei de escrever agora por cinco minutos por falta de termos que não sejam palavrões pra descrever minha indignação. Eu posso parecer uma mala sem alça de continuar batendo nessa tecla, mas é pra mim o essencial dos essenciais: Onde está a educação que os pais dão a essas crianças, adolescentes, jovens extremamente imbecis?

Gente, isso é sério. Será que o besta que estraga dessa forma um patrimônio sabe que o dinheiro do pai dele foi posto nessa construção? Sabe que o portal é de todos os gonçalvenses? Sabe que pessoas gastaram seu tempo e seu trabalho, suaram sua camisa pra pôr de pé toda essa estrutura? Parou pra pensar o quão idiota você é por depredar o que também é seu? Aposto que não. Pois fica a mensagem. Você ia gostar de acordar de manhã e ver que toda sua casa foi pichada? Ou ver que rabiscaram o nome de um casal de namoradinhos na porta do seu quarto? Acorda pra vida molecada. Vai brincar, jogar bola, peteca, namorar, estudar pra ver se vira gente de verdade em vez de ficar deixando rastro por onde passa escrevendo em paredes. (Pra bom entendedor meia palavra basta).

E esse texto não vale só pro portal não ouviu? É pra tudo! Depois vem um babaca qualquer estrangeiro e diz que no Brasil só tem prostituta, macaco e cheirador de pó e a gente fica todo indignado achando que o cara falou um absurdo. Talvez não seja tão absurdo assim né? Já pararam pra pensar em coisas como essa que a princípio parecem bobas e sem importância, mas na verdade, é só mais uma prova de que nosso país é de terceiro mundo mesmo, e está longe de evoluir?A começar por nossas crianças desrespeitosas e sem educação. Elas são o futuro, e – desacredito eu nesse momento– a salvação. Isso minha gente, é o começo, porque quem desrespeita assim um local público também joga lixo na rua, também desrespeita um professor em sala de aula, também insulta um colega, e por aí vai. Não é bobeira, não podemos “deixar pra lá”. A educação de nossos filhos, de nossas crianças é responsabilidade do poder privado sim, mas acima de tudo é responsabilidade de todos nós. Senão, não adianta escola, creche, uma nova biblioteca, nem uma nova frota de ônibus. Não adianta facilitar o engresso à faculdade nem qualificar educadores. Tudo isso é importante, essencial, sim, mas o exemplo que a gente tem em casa, os ensinamentos que nos passam nossos pais, a ética, os valores, isso tudo fala mais alto na hora de formar um caráter. E pessoas de bom caráter formam uma boa cidade, um bom país.

Vamos educar nossas crianças, vamos incentivá-las às praticas esportivas, à arte, à leitura, ao lazer saudável. Vamos passar lições de convivência social, de solidariedade, de respeito. A educação é a base fundamental para civilização, e para o progresso sustentável. Ás vezes a gente precisa de um chacoalhão pra cair na real. Não vamos mais permitir esse tipo de agressão ao que é nosso por direito.